A história reservou para Paulo um lugar na galeria dos líderes do samba, responsáveis pelo crescimento do grande espetáculo das escolas de samba em seus difíceis primeiros anos. Sua personalidade e espírito de liderança, de fato, acabaram ofuscando o Paulo compositor, que deixou como legado uma coleção de grandes obras musicais.
As obras musicais de Paulo, como era característico da produção musical de Oswaldo Cruz, fez-se dentro de um ambiente de amizade e respeito. Diferentemente do que ocorria com os compositores do Centro da cidade,
A amizade com Heitor dos Prazeres, figura já conhecida nas rodas do Centro da cidade, inseriu Paulo num meio onde era possível conseguir fama e sucesso. O próprio Heitor dos Prazeres, segundo alguns amigos, possui algumas músicas que teriam sido de autoria de Paulo. Outras, como "Cantar pra não chorar", possuem a assinatura desses dois mestres da música brasileira.
Enquanto esteve à frente dos desfiles da Portela, Paulo compôs muitos sambas que a escola cantou na avenida, como "Teste ao Samba", "Guanabara", "Cidade Mulher" e "Homenagem à justiça". Especialmente em "Cidade Mulher", podemos perceber todo o talento do compositor Paulo, retratando numa bela poesia a alma carioca e a beleza de sua cidade.
Cidade mulher
(Paulo da Portela)
Cidade, quem te fala é um sambista,
Anteprojeto de artista,
Teu grande admirador
Me confesso boquiaberto,
De manhã, quando desperto
Com tamanho esplendor
Quando nosso infinito
Se apresenta tão bonito
Trajando azul anil
Baila o sol lá nas alturas
Dando maior formosura
À mais linda dama do Brasil
Cidade mulher
Como é linda suas matas,
Seus riachos e cascatas,
Deslumbrar-me é natural
Diante de tal beleza
Que lhe deu a natureza
Se há outra, não vi igual
Quando a tarde é cor de rosa
Ainda é mais formosa
Tem cenário sedutor
Te admiram estrangeiros
Se orgulham os brasileiros
Seu poetas sonhadores
Sambas como "Cocorocó", "Ouro, desça do seu trono", "Pam-pam-pam-pam", "Olhar assim" e muitos outros fizeram sucesso na voz de grandes nomes da música brasileira, como Mário Reis, Carlos Galhardo, Clementina de Jesus, Roberto Ribeiro, Beth Carvalho, Candeia e muitos outros. Especialmente nas gravações de seus discípulos da Velha Guarda, suas músicas ganham mais emoção.
Em "Ouro, desça do seu trono", gravada primeiramente por Candeia e mais tarde por Luiz Carlos da Vila, Paulo transmite seus ensinamentos de que a honestidade está acima dos interesses e das ambições que já dominavam o mundo em seu tempo.
Alguns de seus amigos da Velha Guarda tornaram-se parceiros de Paulo, musicando ou atualizando antigas obras deixadas pelo mestre. Monarco, por exemplo, tornou-se parceiro de Paulo em "Quitandeiro" e "Linda Borboleta".
Algumas músicas de Paulo permanecem inéditas e esperam que alguma iniciativa resgatem-nas para que possam fazer sucesso, como "Sonho", "Conselho" e "Paulicéia", esta última em parceria com outro grande mestre do samba, seu amigo Cartola. Por mais inusitado que possa parecer, esses dois mestres possuem uma parceira em um jingle comercial que fez sucesso nas rádios da década de 40.
Dedicadas ao grande mestre, muitas músicas foram feitas em sua homenagem, como "De Paulo da Portela a Paulinho da Viola", "Um minuto de silêncio", "Meus sentimentos, Portela", "Sambista esquecido" e "Homenagem a Paulo". Destacamos especialmente "Homenagem a Paulo", de Ernani Alvarenga.
Homenagem a Paulo
(Ernani Alvarenga)
No Portelão falta a estátua
Do Paulo da Portela
Todas as escolas perguntavam
Até a saudosa Favela.
Uns e outros dizem que estão errados
Recordação é lembrança do passado
As escolas de samba em silêncio
Quando partiu para a eternidade
Batuqueiros clamam porque
Ele deixou saudades
As escolas de samba em silêncio
Quando ele partiu para eternidade
Batuqueiros clamam porque
Ele deixou saudade la-raiá
Após seu afastamento da Portela, amargurado, Paulo compôs "Meu nome já caiu no esquecimento". Nisso Paulo estava errado, pois seu nome e suas composições permanecerão sempre vivos na memória do samba e de nossa cultura popular.
O meu nome já caiu no esquecimento
(Paulo da Portela)
O meu nome já caiu no esquecimento
O meu nome não interessa mais ninguém
E o tempo foi passando
E a velhice vem chegando
Já me olham com desdém
Ai quantas saudades
De um passado que se vai lá no além
Chora, cavaquinho, chora
Chora, violão, também
O Paulo no esquecimento
Não interessa a mais ninguém
Chora, Portela
Minha Portela querida
Eu, que te fundei
Serás minha toda vida