Falar da bateria da Portela é lembrar de grandes mestres que escreveram a história do samba. Sua batida firme é reconhecida no Brasil e no exterior, o que a fez ganhar fama no mundo do samba como a "Tabajara do Samba".
Nas festas na casa do Sr. Napoleão, Sr. Vieira, D. Neném e Dona Esther, participantes dos cultos afro-brasileiros, em suas diversas linhas e nações, traziam seus instrumentos: violões, atabaques, cavaquinhos, tamborins, tamboretes, pandeiros e cuícas, que formavam o ritmo para o lundu, caxambu, jongo e samba. Desse período distante, a Portela formou o seu "regional", grupo que se apresentava com os instrumentos em festas e circos.
Nas primeiras apresentações do então Conjunto Carnavalesco Oswaldo Cruz, o grupo utilizava os músicos desse "regional", formando o embrião da bateria da Portela. Grande parte dos primeiros instrumentos portelenses foi trazida do quartel pelo sargento Mendonça. Contudo, esses instrumentos precisavam ser devolvidos, e a Portela teve que produzir suas próprias peças de bateria no barracão.
Quem começou a desenhar a trajetória gloriosa da bateria da Portela foi Adalberto dos Santos, o mestre Betinho, que mudaria definitivamente o rumo das baterias e do carnaval carioca. Foi Betinho quem introduziu nas escolas de samba instrumentos como a caixa-surda e o reco-reco. Certa vez, observando um guarda de trânsito no exercício de suas atividades, Betinho teve a idéia de usar um apito para comandar seus ritmistas, iniciando uma prática que se tornou comum.
Características em mudança
Depois de Betinho, Ximbute, antigo auxiliar, assumiu o comando de nossa bateria. Corneteiro do Exército, Ximbute utilizou na bateria instrumentos comuns nas bandas marciais. Oscar Bigode também foi outro grande mestre da Portela e do carnaval carioca, sempre procurando inovar e introduzir novos instrumentos.
Além desses, Nozinho, Vadico, Quincas, Valdomiro, Cinco e André, que fez sucesso inventando a "paradinha" na Mocidade Independente de Padre Miguel, foram grandes diretores ou mestres de bateria da Portela.
Mestre Bombeiro é o componente mais antigo. Está há mais de 40 anos dirigindo o naipe de surdos. Depois dele vem Arsênio na cuíca. Os 2 somam quase 100 anos de bateria.
A Portela também foi a primeira escola a permitir a participação de mulheres na bateria. Dagmar, que tocava surdo, entraria dessa forma para a História do carnaval.
A "Tabajara" portelense conservava como característica básica o surdo de terceira com o couro mais frouxo e a batida característica criada na década de 40 por Sula. O couro mais frouxo deixava a afinação da terceira da Portela mais grave que a das outras escolas. Isso mudou nos últimos anos. Mas a batida com 4 toques curtos e 3 toques mais espaçados segue sendo a marca da escola.
Durante alguns anos, a Portela mudou sua forma de tocar a caixa de guerra e mesclou o toque rufado com a caixa tocada embaixo somado ao toque de tarol, com a caixa tocada em cima. Mas em 2009, retornou apenas com a batida de caixa rufada.
A bateria ostenta quantro Estandartes de Ouro, conquistados nos anos de 1972, 1986, 2010 e 2012. Foi uma bateria "pesada", onde notava-se a presença marcante dos surdos. Hoje o número de marcações caiu de 60 para cerca de 40.
Diferentemente de outras escolas, a Portela tinha a tradição de colocar todos os surdos de primeira do lado direito (olhando de frente para a bateria) e todos os de segunda do lado esquerdo. Isso também mudou devido à aceleração do samba.
Outra mudança visível foi a entrada no segundo recuo. A Portela foi a primeira escola a passar pelo segundo recuo, dar meia-volta e entrar com a parte de trás. Hoje, para abrir espaço na avenida rapidamente, a bateria entra de frente e faz a troca de posição dos instrumentos dentro do recuo.
De 1970 ao Século XXI
Em 1971, Mestre Cinco foi trazido da Unidos de Padre Miguel para a Portela, tendo assumido o desfile de 1972. Junto com ele veio um grupo de ritmistas que impuseram uma batida diferente à escola. Não houve descaracterização total, mas a bateria passou a bater diferente.
Em 1978, Mestre Marçal - que era diretor - chega ao cargo de mestre e resgata parte da batida da escola. Somente em 1980 divide o cargo com Mestre Quincas, mas fica na escola até 1986. Em 1987, começa a geração Timbó.
Mestre Timbó chegou à Portela freqüentando os ensaios no Mourisco. Com experiência de bateria nos blocos da região de Laranjeiras - Canários das Laranjeiras - e Botafogo - Foliões de Botafogo -, Timbó fica na Tabajara até 1994, quando é substituído por Mestre Mug.
Até o carnaval de 2002, Mestre Mug foi o maestro da "Tabajara", herdeiro da tradição de grandes mestres portelenses.
Esse quadro só foi modificado em 1996 e 1997, com rápida passagem do Mestre Paulinho de Pilares.
Em 2003, assumiu a bateria Carlinhos Catanha, filho de mestre Catanha, que durante anos dirigiu o naipe de tamborins. Carlinhos tocava na bateria a quase 20 anos e era prata da casa. Ele fez um ótimo desfile e permaneceu na bateria até dezembro de 2003, quando foi afastado da direção. Segundo o então diretor da escola, Marco Aurélio Fernandes, Catanha estava descaracterizando a bateria. O mestre não concordou com a afirmação, mas deixou o cargo junto com vários diretores. Mestre Mug foi chamado de volta e levou a bateria até o fim do carnaval.
Em agosto de 2004, já na administração de Nilo Mendes Figueiredo, Amando Marçal, o Marçalzinho, filho de Mestre Marçal, foi convidado para dirigir a bateria. Marçalzinho freqüentava a escola. Estava afastado da bateria desde 1986, mas aceitou o convite.
A bateria se saiu muito bem em 2005, num desfile cheio de problemas. No final do ano, ocupado com o trabalho de percussionista, Marçalzinho pediu demissão e deixou um de seus diretores no cargo. Houve boatos de que ele havia se desentendido com a diretoria. No entanto, o próprio garante que os motivos foram profissionais.
Nilo Sérgio, que já estava na Portela desde os tempos de Mug, é o atual meste de bateria e fez sua estréia no desfile de 2006. Na ocasião, anhou o Estandarte de Ouro de Revelação. Comandou a escola também em 2007, 2008 e 2009.
Em 2010, colocou Marçalzinho em um pequeno carro tocando dois tímpanos, como desfilou o pai - Mestre Marçal - durante alguns anos. A bateria levou o Estandarte de Ouro. Em 2012, mais um Estandarte de Ouro confirmou a Tabajara do Samba como uma das melhores do carnaval.
Bibliografia:
ARAUJO, Hiram. Carnaval - Seis milênios de história. Rio de Janeiro. Gryphus, 2000.
CANDEIA FILHO, Antônio & ARAÚJO, Isnard. Escola de samba - árvore que esqueceu a raiz. Rio de Janeiro, Ed. Lidador, 1978.
Autor: Fábio Pavão e Marcello Sudoh
Foto: Bateria da Portela em 2010, O Globo online
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